Tipos de Problemas Filosóficos

Nem todos os problemas que enfrentamos na vida são de natureza patológica, assim como nem todas as causas de sofrimento ou de infelicidade são sinais de doença mental. A maioria das questões que podem dar origem a diversos problemas na vida quotidiana, relacionados com o medo, os sentimentos de tristeza, de perda, de solidão, de frustração, de esgotamento, de preocupação, de confusão, entre outros, têm na sua origem e são sinais de problemas filosóficos mais amplos que merecem atenção, relacionados com as crenças e verdades fundamentais, com o pensamento crítico e criativo, abertura para novas perspetivas, raciocínio e consistência, ética e valores, significado, propósito, felicidade, autoconhecimento, autodescoberta, autorrealização, autodisciplina, liberdade, responsabilidade, entre outros.

A maioria destes problemas são, de facto, produtos de um sistema ligado com a ausência da virtude filosófica, tendo ficado os filósofos silenciados sobre as questões mais importantes da vida e tendo permitido e encorajado uma sociedade moralmente desordenada.

Viver envolve inevitavelmente questões filosóficas fundamentais. Questões ligadas à natureza do eu, às nossas obrigações para com os outros e o planeta, e ao valor e significado da vida não podem ser tratadas com a intervenção médica. Nenhum medicamento pode ajudar a atingir os objetivos ou fazer as coisas certas, mas o diálogo filosófico pode dar um importante contributo.

A experiência filosófica representa o aspeto prático da Filosofia, não se tratando portanto de uma filosofia académica, apenas teórica que negligencia os problemas do dia-a-dia, mas contribui para a compreensão de questões relacionadas com os acontecimentos na vida do indivíduo.

Epicuro caracterizava a filosofia como terapêutica, na medida que leva o indivíduo a uma “profunda transformação do modo de ver e ser”, aliviando as preocupações que o impede de viver de maneira verdadeira (Pierre Hadot).

O objetivo do Filósofo não é curar as pessoas, mas clarificá-las e capacitá-las com ferramentas para que elas encontrem o seu próprio caminho, representando “um médico compassivo, a arte do qual pode curar muitos tipos predominantes de sofrimento humano” (Martha Nussbaum).

A prática filosófica tem um efeito terapêutico não apenas no sentido restrito, isto é, de se apresentar como um exame filosófico da vida e dos seus problemas que possam surgir, mas no sentido mais lato, procurando compreender a natureza dos pensamentos e das crenças, ajudando as pessoas a deixarem de justificar atitudes ou ações que prejudicam a si própria e os outros, levando-as no caminho autodescoberta, para desdobrar os caminhos mais subtis que as permitem crescer

A prática filosófica distingue-se de outros procedimentos por oferecer uma abordagem holística, em vez de específica, do problema, pois seu foco está na vida inteira da pessoa e na filosofia de vida e não simplesmente num único elemento dentro dela, compreendendo o ser humano como parte de um todo unificado e inseparável, no qual todas as partes estão fortemente conectadas, representando cada um de nós uma combinação de energias físicas e mentais, um projeto sem limites, transcendente, em constante mudança e interdependência.