Felicidade

A felicidade não é o prazer fugaz, nem sequer a mais extática e arrebatadora alegria, mas um estado e sentimento duradouros de profunda satisfação e realização, que vem do interior e não depende de algo que possa acontecer ou não, que se possa ganhar ou perder ou aumentar e diminuir. A mais profunda felicidade expressa a plenitude de ser e acompanha o global florescimento de todas as nossas faculdades cognitivas e afetivas, a ilimitada compreensão e amor do mundo e de todas as formas de vida. A mais profunda felicidade integra e supera, sem as ignorar, as experiências da dor, do sofrimento e do conflito, tal como transcende a inquietação e ansiedade ainda inerentes ao desejo e busca de ser feliz.

A mais profunda felicidade é um sentimento de cumprimento e realização do sentido da vida, uma sensação de integridade e perfeição, por maior que seja ainda o horizonte de crescimento que ante nós se abre, uma experiência de não estarmos a falhar o alvo e a passar ao lado da nossa única e mais autêntica vocação: precisamente a de sermos felizes. É sugestivo que pecado seja a tradução latina do grego “amartia”, que significa “falhar o alvo”. Ser feliz é sentir que a viagem da vida acerta no seu alvo profundo: a plenitude, que muitas tradições descrevem como salvação, união com Deus, despertar, iluminação ou libertação.

A mais profunda felicidade é uma serena bem-aventurança para além das palavras.

Nela não estamos sós pois nela todos os seres e coisas comungam. A mais profunda felicidade é simultaneamente o mais íntimo e cósmico dos acontecimentos, o esplendor de cada consciência e de todo o universo, a poderosa, ampla e serena Festa da Vida. Para a qual todos somos desde sempre e a cada instante convidados.

Autor: Paulo Borges. Copyrights iLIDH 2015-