Verdade

A verdade é o desvelar da natureza profunda da realidade – da vida, dos seres e das coisas – na consciência. É uma experiência de abertura sem limites a que se pode chamar sabedoria: não um conhecimento exterior, intelectual, mas o saborear a plenitude da vida em todas as suas manifestações.

Os gregos chamaram-lhe aletheia – não-esquecimento, desvelamento, desocultamento – e os indianos satya, que vem de sat, ser, o que é, o real. A verdade é não esquecer o real, tudo o que se manifesta aqui e agora, a cada instante, trocando-o por preocupações com o passado e o futuro e por palavras, conceitos e imagens que apenas traduzem as nossas perceções, interpretações e juízos limitados. A etimologia indo-europeia de real evoca a riqueza, a abundância. A natureza das coisas é abundante, plena de todas as possibilidades: a verdade e a sabedoria é a consciência e experiência disso no presente, pois é só nele que as coisas existem e a vida se oferece.

A verdade não se pode jamais reduzir a uma definição, doutrina ou símbolo. Ela convida-nos a transcender conceitos, imagens e palavras numa experiência contemplativa e silenciosa que pacifica e liberta da agitação mental e emocional que obscurece a consciência. A verdade manifesta o fundo sem fundo de tudo, abre a mente e o coração e manifesta-se na autenticidade do silêncio, do pensamento, da palavra e da ação. A verdade torna-nos autênticos, confiantes e generosos, mostrando a nossa constante ligação a algo mais vasto do que os nossos pequenos eus, que abrange tudo quanto existe. Por isso algumas tradições a identificam com Deus ou com a Vida, o Infinito, a Natureza, o Ser, o Vazio ou a Via, entre outros nomes para sugerir o que se não pode dizer, mas que se experiencia nos momentos mais plenos das nossas vidas, que nos arrebatam de maravilhamento, gratidão e amor.

A verdade dá-se no sentimento de que, por mais difíceis que sejam as circunstâncias, há algo de profundamente são, perfeito e bom em tudo quanto existe. Uma presença que atravessa todos os seres e coisas. A cada instante. Agora mesmo. Experimentá-lo liberta-nos.

Autor: Paulo Borges. Copyrights iLIDH 2015-